ele pensa e não diz
onde tem muita água
tudo é feliz.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Infindo

A mulher não deu nem bom dia. A ninguém. Parou na minha frente e pediu um cigarro. Eu a olhei com um certo desprezo e não lhe daria nada, se, segundos antes, eu não a tivesse visto dançar na calçada em frente às portas de vai-e-vem do edifício. Dançava como louca, como se tivesse o demônio no corpo e acompanhasse um ritmo desconhecido de nosso mundo.
Afinal, eu lhe dei o cigarro. Ela tirou um isqueiro da bolsa e o acendeu só pela metade. Reparando nisso, ela começa a tentar queimá-lo corretamente. Sem êxito. Eu tiro meu isqueiro do bolso e acendo-o todo para ela, que não me dá nem um sorriso, a maldita.
Sento-me à mesa de novo. Mesa que é só minha, muito minha, não divido com ninguém. Ela agora pergunta porque me sento aqui, no térreo; mais precisamente no saguão de entrada, de costas para o balcão de informações. E antes que eu possa responder, pergunta ainda se eu sou mesmo um funcionário do estabelecimento.
'Claro que sou', digo. A mesa tem a plaquinha com meu nome. Eu só sento aqui porque me deixam fumar. O tempo todo. E lá em cima, em qualquer sala, eu não poderia, teria que ficar descendo e subindo.
Ela me olha de uma maneira estranha, porque não sabe se acredita ou não na minha resposta. Mas tenta disfarçar; faz um 'ah', como se assim demonstrasse que compreendeu tudo e pergunta se não é um exagero. Sabe, desistir do conforto de uma sala só pelos cigarros, se não é importância demais dada a eles, ou se não são cigarros demais. Eu lhe mostro meu cinzeiro. Fundo, largo e abarrotado. Às onze e vinte e sete da manhã. O rosto dela pareceu mais atordoado dessa vez e ela nem se preocupou em disfarçar. Pareceu ter um pouco de nojo. Olhou para o cigarro que lhe dei e que se fumava sozinho; ela não o levava à boca há mais de um minuto, Ofereci-lhe o cinzeiro, apontei-lhe a cadeira ao lado da minha


(Ainda em) Niterói, 2 de setembro do 2010.

8 comentários:

Ferreira, Lai disse...

Esse '(Ainda em) Niterói...' veio do original. Porque escrevia pra matar o tempo e já começava a ficar tarde da noite.
Eu esperava.
E não consegui dar continuidade.
Nem ao texto, nem a...

deixa, vai.

caio k disse...

nem a fumaça. pare de fumar.

Ferreira, Lai disse...

já parei, já parei.

Mariana Fontes disse...

Cara, cuidado com a nicotina. rs
Sério.

Ferreira, Lai disse...

É, eu temo pelos meus dentes. =/

caio k disse...

dentes? né, os dentes. os pulmões, nem tanto.

e cada vez mais, yo tengo más certeza de mim tese.

Ferreira, Lai disse...

danem-se os pulmões, os dentes é que aparecem.

e eu também ando meio muito certa de sua tese.

A.ana disse...

nada melhor do que passar por aqui*-* adoro o que escreve.