ele pensa e não diz
onde tem muita água
tudo é feliz.

domingo, 12 de junho de 2011

Fora de Si

A janela crescia em velocidade constante. Cada vez mais o lado de fora se aproximava assustador, as folhagens e ramos do jardim (que era verdadeiro pedaço sobrevivente de mata atlântica) entravam sem pedir permissão, invadiam pelas paredes, estouravam-lhe os globos oculares. Choro de criança. Agora a janela decresce. Volta ao lugar de sempre e se afasta para mais distante, até ficar pequenininha, cabendo em duas mãoszinhas. As plantas se retiram.

A menina abre os olhos, timidamente, ainda vermelhos de agressão e lágrimas; chora outra vez: não quer que o jardim vá embora. Mas esse pensamento dura um segundo; tudo acontece de novo, volta a janela, arregaçando-se. Estoura um vidro, a cortina se rasga em alguns pontos. É como se a imagem do que se passa refletisse o inteiror da garotinha que a tudo assiste por entre os cílios molhados. Se pudesse, cobriria as vistas com os dedos, mas a curiosidade é maior. Agora entram as flores do bouganville, que antes ficavam tão distantes, ela precisava correr um bocado para alcançá-las.

Começa a aprender, vê que, mal a natureza avança pela casa, já está prestes a retroceder. Portanto, não deveria, mas chora mais ainda: o movimento é infindo, lhe põe tonta. O vai-e-vem que acompanha não é dos mais normais. Parte dele acontece todo dia, ela morre aos tantinhos.

Parte outra finaliza agora. A cabeça enfim pende para o lado, as plantas desistem de voltar aos seus lugares; a última visão é de flores fúcsias tomando o ambiente e fazendo-se confortáveis, acompanhadas de verdes espinhos que lhe cortariam a face, não fosse alguém entrar no cômodo e interromper o movimento. Então vem o grito. Da compreensão de que a criança enforcara-se ao tentar enxergar além da grade da janela.