ele pensa e não diz
onde tem muita água
tudo é feliz.

domingo, 13 de junho de 2010

Amanhã Já Não Sei

Começo em primeira pessoa pelo que espero ser_ e não será_ a última vez. Pra dizer que premedito minha morte. Quero uma despedida, um funeral. Neste testamento simples deixo minhas últimas sílabas ao Anônimo, apesar de minha dor no coração, por saber que devo tanto a outros. Mas que se dane, são minhas, deixo pra quem eu quiser.
É isso, são pra você, minhas últimas palavras. Calou-se tanto que me fez calar também.





Imbecil.

domingo, 6 de junho de 2010

Antes de tudo havia o Caos

_Não escuta, você não vai entender!

Pegou o telefone, entrou no quarto, bateu a porta, que ficou sacudindo, como se dela fosse surgir um pedido desculpas; era muita falta de educação.

Meia hora depois:

_Tô saindo, não me liga! Não sei a que horas volto, não sei se volto. Eu te amo.

Uma fração de segundo depois:

_Que que vai ter pra janta?

Uma hesitação depois:

_Não, deixa, não me espera.

O tempo de um cigarro ser degustado depois:

_Olha, eu vou chegar tarde, você pode dormir. Sério mesmo.

A morte de uma formiga que passeava pela parede da sala depois:

_Vem cá, aquela lâmpada que queimou, você trocou?

Uma espiadela casa adentro depois:

_Quer que eu troque? Acho que dá tempo.

Um clique no interruptor depois:

_Ah, olha a luz aí. Deixa, então.

Uma pausa desconfortável depois. Uma coçada na testa. Uma menção de pegar o maço dos cigarros. Uma desistência; pegou o isqueiro, ficou brincando de acender e apagar.

_Bem que podia ter um sofá aqui.

Um arrependimento depois:

_Não, eu prefiro assim. Só falei isso porque queria me tacar num sofá agora. Mas deixa, eu gosto mesmo disso aqui; essa sala, como tá.

Uma pausa vazia depois:

_Sabe, faz tanto tem...Não, mentira, esquece.

Um momento de espectativa muda depois:

_Tá bem. Eu vou agora.

A maior espera do mundo contida em meio segundo depois:

_É, é isso. Tchau.

Exatos quarenta e dois minutos de puro arrependimento, autodepreciação mental, fumaça engolida, sensação de que falta algo e olhos ressecados depois:

_Voltei.

A porta_ a mesma que antes batera, frisando que queria estar só_ agora lhe sorria com escárnio. Bateu.

_Eu precisava disso, entende? Só um tempinho. (umalgoqualquermuitocurtodepois:) Já passou.

Abria-se a vedação, sem que a maçaneta precisasse girar e o cômodo lhe sorria; não estava mais só.

Um passo de pessoa adulta e não muito grande depois:

_Às vezes eu sou tão eu que me divido em dois.

A sensação dos corpos depois:

{}

Abraços são silenciosos.