ele pensa e não diz
onde tem muita água
tudo é feliz.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Me perdi (e o pronome vai ficar onde está)

Queria morrer de amor. É poético, ao menos. As pessoas diriam assim: "olha, aquela menina morreu de amor; que bonito". Mas não dirão; o mais provável é que nem digam nada; tragédias sem amor não são tragédias. Serei comédia eterna. Comédia boba, pouco provável de risos sinceros, já que a comediante soa tão pouco autêntica.
A tal comediante nasceu pra fazer drama, mas não tem coragem pra tal ventura. Então passa os dias a vomitar emoções, de forma camuflada (achando que engana alguém), que não satisfazem nem a ela, nem ao público.
Até que um dia se dê conta de que amor mesmo sempre teve. E não morra. Relapsa que era (e ainda é) não notava nem cinquenta dançarinos de rumba debaixo de seu nariz (um pouco acima da boca. O espaço é pequeno, mas eles também são contorcionistas). Agora está livre, ama. Mas o amor é transitivo direto; quem ama, ama alguém. Então não é tão livre assim. Não se pode amar simplesmente, tem de haver um complemento. Complemento esse muito complicado, nem sempre corresponde. E não pode ser indireto, não podem haver dúvidas, o que acaba tornando-o indigesto. No fim das contas morrer de amor acaba virando uma piada que todos cometem. A cada hora, a cada vida, a cada intervalo entre um espetáculo e outro, para que nem dê tempo dos atores tomarem uma água. A cada vírgula o amor se torna mais virulento e se espalha, ataca, mata. E não te deixa morrer, agora que arrumou um sentido (mesmo que banal) pra vida.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Hemorragia de palavras ou Sobre o que eu não acredito

A Prolixidade, em busca de uma posição mais sintética, emudece. Extremista como só ela, não se contenta com o meio termo. Daí então, só se permite falar para si própria. E no meio desse falatório egoísta, encontra-se às voltas com sua infância, onde ainda não era prolixa, apenas chatinha, porém enquanto todas as outras características ainda eram tão pequenas, ela já se mostrava grande e desenvolvida demais para a idade. Depara-se com a paciência, velha conhecida. O que a pobre Prolixidade não sabia é que a antiga amiga a estimava por demais. Na verdade, sempre teve grande paixão por ela. Paixão esta que nunca foi revelada, pois a Paciência é tímida que só ela. A Paciência escuta sempre, raramente se expõe. Diferentemente da Prolixidade, que nunca é finita, tem sempre o que argumentar. Por isso a paixão. Uma crê que completa a outra e vice-versa. A pena é que a outra nunca soube de tal consideração. E agora, está muda; estão iguais, Prolixidade e Paciência. Não trocam palavras, apenas se olham. Até que a mais tímida e menos verborrágica toma a coragem que nunca teve e externa-se. A outra, ainda calada, sente-se exulta como nunca antes e descobre como pode ser gratificante ouvir e decide juntar-se à outra, por pura vaidade e egoísmo. E assim permanecem juntas, com suas naturezas postas à prova; trocam-se de significado.