ele pensa e não diz
onde tem muita água
tudo é feliz.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Escrevo laranjas. Não importa o gosto, mas sim que as espremam e façam suco. Suco,suco,suco. E mais suco. Altamente diurético, vai sair quase tanto quanto entrou. Mas o que fica vira vitamina C, que por conseqüência deixa sua pele bonita e não deixa que seus dentes caiam.
Talvez o esforço de espremer as laranjas não valha o pequeno resultado que você tem depois, afinal é só futilidade. Laranja é futilidade, então eu sou fútil. E vou ter que recorrer à maldita pra finalizar:
"porque se tem direito ao grito, então eu grito."

([Acho que é algo assim]_A hora da estrela, Clarice Maldita Lispector)



Mas eu discordo; gritaria mesmo se não tivesse direito.

domingo, 26 de outubro de 2008

Em fevereiro tem carnaval

Torraremos, senhoras, como camarãozinho na praia acompanhado de cervejinha no verão escaldante deste país cortado pela linha imaginária e supostamente agraciado por uma sensação de falsa segurança causada pela cultura inútil de massa.
Arrastadas seremos, senhoras, pela nuvem que passa silenciosa, monocromática, aborrecida, porém crente na mudança que nunca virá e só serve para conter as emoções desses seres que gostam de imaginar-se e rotular-se como gente, tanto que quase acredita. Doce ilusão; amarga sina; salgado o gosto do mar e das estrelas; azedo-ácido o cheiro do humor; insípida a falta deste.




ps1:insípida quer dizer sem gosto.


ps2:nesse carnaval fujo de casa e só volto na quarta-feira de cinzas.

domingo, 19 de outubro de 2008

Nonada(de verdade, agora)

"Me ensinou um meio-mil de coisas...A coragem dele era muito gentil e preguiçosa...Sempre só depois do final acontecido era que a gente reconhecia como ele tinha sido homem no acontecer..."


Hoje acordei meio Guimarães Rosa.
=]
Eterna travessia.

sábado, 18 de outubro de 2008

Diversão pra mim

Divertido mesmo é observar os caracteres que aparecem pra você digitar quando posta algum comentário(perdoem a ignorância se estes já tiverem um nome ou algo parecido, eu não manjo disso aqui). Tente pronunciá-los! =D

Diversões baratas divertem mais que quaisquer outras. Aquelas pequenas, que te satisfazem por 30 segundos e que te deixam querendo mais. A sobremesa antes do almoço; o dinheiro achado no fundo do bolso e que você nem lembrava mais; um scrap daquele seu amigo que foi morar longe e não dá notícias há séculos; a nova cor do muro do vizinho; um gibi da Mônica; coisas asim. Ou não. Não sei se chamaria essas pequenas coisas de coisas pequenas. Não sei classificar felicidade, não quero classificar felicidade. Deixo as classificações pra nunca mais e me divirto sendo redundante, prolixa, chata mesmo. Mas foda-se, sempre tem um idiota que lê as minhas baboseiras. Afinal, eu escrevo pra mim mesma, egocentricamente.







Com carinho, para a mais idiota. =*

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Preguiça mata.

Morri, então.
Vão no meu pseudo-enterro. Por favor.
E dõem meus órgaos. O resto cremem e fumem depois.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

nãohátítulo

Bateu na porta. Eu não abri. Mandei ir embora e não voltar nunca mais. Disse que eu não agüentaria viver sem ele pra sempre. Verdade, mas ele não precisa ficar sabendo.
Começou a falar do passado, dos bons momentos que passamos, dos bons momentos que poderíamos passar se eu não fosse tão cabeça-dura. Sentei-me encostada na porta, a cabeça pendendo para frente: caí em prantos; não agüentaria muito mais e abriria a porta, mas as personalidades fantasiosa e realista que me rodeiam a cabeça começaram a discutir e me deixaram tonta, deitei no chão. Ele não falava mais nada, deve ter ido embora, pensei.
Uma agitação nas cortinas e eis que lá estava ele: entrara pela janela! Gritei de susto e me espremi numa posição fetal como que para me defender. Como pude ser tão idiota em pensar que desistiria tão fácil? Logo ele, sempre tão insistente. Desse momento em diante comecei a me odiar mais do que o normal e esse sentimento só aumentaria com o passar do tempo.
Ajoelhou-se ao meu lado, levantou meu rosto e enxugou-me as lágrimas. Não resisti e abracei-o. Abracei-o como se fosse o último dia, o último instante de minha vida. "Por que você tem que ser assim?", ele pergunta. Oras, mas é mesmo um tolo por pensar que escolhi essa identidade, essa propensão à volubilidade, mas não vou discutir. Ficamos assim por um bom tempo, até que, sem que eu percebesse, saiu por onde entrou e deixou apenas o seu cheiro em meus cabelos e as estrelas no céu. As estrelas de que eu sentia tanta falta. As estrelas que ninguém nem nada mais poderia me dar. Apesar de tanta raiva, de tanta amargura compartilhada involuntariamente, fomos feitos um para o outro.



terça-feira, 14 de outubro de 2008

Sonho(s)

Olhou para a esquerda e para a direita. Atravessou. Certo de que não chegaria ao outro lado. O mar de carros quase o afogou, mas nenhum deles chegou a tocá-lo. Era como flutuar entre as nuvens: você passa por elas e nem sente. Ainda assim não queria chegar ao lado oposto. Resolveu seguir um dos carros. Procurou um em especial. Foi aí que a viu. Dentro de seu carro, os vidros fechados, parecia isolada do mundo exterior. Como um anjo pairando por sobre aquelas nuvens. O engarrafamento andou alguns metros. Ele perdeu o carro de vista, mas logo o achou. Não era tão difícil de ver aquele carro vermelho berrante, que assim como ela, chamava muita atenção. Alcançou-o novamente. Bateu na janela, foi ignorado. Chamou-a pelo nome. Ela nem ao menos virou o rosto. Ele pôs-se louco. Berrou, bateu, tentou abrir a porta, forçou a maçaneta. Ela nem parecia notá-lo. Nem os passageiros e motoristas dos carros próximos. Foi aí que começou a acreditar que não fazia mais parte do mundo dos vivos. _Então aconteceu._ A garotinha no banco de trás do carro ao lado apontava para ele e cutucava a mãe. Esta apertava os olhos, mas parecia nada ver. Ele já não sabia o que fazer, nem o que era. Acenou para a menina, que retribuiu.
Os carros andaram mais e mais e enfim ele pôde ver a causa do engarrafamento. Um acidente. Uma única vítima: ele mesmo. Sangue(!): saindo de sua boca. Viu-se jogado no chão.

De sua casa.

Virou a cabeça. Limpou o sangue da boca com as costas da mão. Abriu os olhos. Viu os pés do sofá. Ouviu a TV monologando para as paredes. Sentiu o cheiro da pizza de ontem estragando o tapete. Levantou-se e chutou o controle remoto. Foi até o outro lado da sala. Abriu a porta. Saiu para a rua. Queria liberdade. Queria fugir para aquele mundo de carros e ruas e pessoas que não o viam e garotinhas que acenavam. Agora tinha apenas um propósito: fazer a mulher do carro vermelho notá-lo. Entrar no carro e fugir. Fugir para um mundo além desse. Apenas os dois. Eternamente.
Mal percebeu que adormecera novamente. E que esse seu mundo dos sonhos acabaria em breve. Ao som do despertador.

Vingança

Bateu a porta, mas não trancou. Contava os passos pela calçada, contava os segundos de sinal aberto. Atravessa uma, duas, três e na quarta rua tem uma cega. Não está com pressa, mas não pára pra ajudar, já passou da fase de fazer o bem sem olhar a quem. Lembra dos tempos em que freqüentava o centro espírita e não comia carne nem tomava leite.
Chegou à banca de jornal. Não tem Hollywood. Tudo bem, tem outra banca logo ali. Não, não interessam outras marcas de cigarro. Boa tarde. Continua a comparação com o passado. Não fumava, era saudável. É arrogante a ponto de não se arrepender de nada e a única coisa da qual sente falta é do gosto da comida; porque o que sente hoje é um mero reflexo do que sentia antes, por isso, prefere as mais condimentadas. Está engordando, mas e daí? Nunca ligou pra isso.
Agora atravessava a praça que separa uma banca da outra, Crianças. Sujas, sem dentes. Algumas com suas respectivas mães, outras com suas respectivas balas de hortelã e jujubas à venda. Pára em frente a uma, compra dois pacotes de bala. Da grande. Não por querer ajudar, mas para manter a quantidade (absurda) de açúcar diária.
Vai seguindo. Velhos. Pães. Migalhas. Pombos. Ratos com asas. Pombos são repugnantes. A última coisa que fará ao envelhecer vai ser alimenta-los. Prefere enterrar-se na própria casa e nunca mais sair, para resistir melhor ao que parece ser a maior tentação de quem chega à terceira idade. Esse pensamento faz com que levante o pé direito e o bata no chão com força, fazendo barulho; um ato típico de quem pretende espantar pássaros, tira-los do caminho. Nenhum voou; todos se viraram em sua direção e os que estavam na frente bateram o pé. Sim, vários daqueles pés com três(alguns com dois) dedos bateram no concreto, sincronizados e podia-se jurar que suas expressões mudaram: tornaram-se duras, cruéis mesmo e então voltaram a bicar os farelos como se nada houvesse acontecido.
Depois disso, decidiu, então, de olhos ainda muito arregalados e a boca aberta, contornar a praça. Entrou na lanchonete mais próxima:
_Um café, por favor...Não, não...Vocês têm conhaque?
E decidiu que da próxima vez ajudaria a cega a atravessar. E pegaria mais leve no açúcar. A arrogância ia ter que dar um tempo, porque o medo da vingança do mundo era maior.

Daltônico



Era uma cidade desbotada. Sim, desbotada. E não existe palavra que descreva melhor um lugar sem cores. Pode-se dizer que a tonalidade mais berrante já vista lá foi o cáqui (que, por acaso, não tem nada de berrante, e se você não sabe o que é cáqui, pergunte ao estilista ou ao militar mais próximo). Nem os sorvetes escaparam; quem fosse à sorveteria, só pedia creme. Creme, creme, creme. Não pediam nem mesmo flocos, pois não era monocromático. E depois de algumas pesquisas, descobriram que os donos das sorveterias não utilizavam mais corantes fortes, alegando que era simplesmente impossível, pois os tais corantes tinham desaparecido do mercado.
Nem o sol, o tão necessário e geralmente tão brilhante sol, escapou. Era cor de ferrugem! Mas uma ferrugem enferrujada por demais. Tanto que doía nos olhos. Tanto que nem esquentava mais. O sol se tornou um mero figurante na cidade; não servia pra nada, só pra fazer os olhos doerem.
Até que numa manhã fria, como todas as outras, aconteceu algo diferente. Aconteceu “alguém”. Alguém que usava calças azuis-turquesa e camisa lilás. Alguém que fazia bolas de chiclete cor-de-rosa maiores que a própria cabeça. Alguém que queria sorvete de pistache. E mais: alguém que não conseguia distinguir tons pastéis, mas que via muitas, mas muitas variações de violeta.
A cidade se reuniu em um conselho para discutir o que fazer com o dito cujo, afinal, isso não podia ficar assim. “Isso é imoral”, diziam uns, “todo esse roxo se espalhando por aí não vai dar em coisa boa!”; porém outros, mais jovens, argumentavam a favor, afinal, “que mal faz um pouquinho de cor?”. Mas a maioria opressora ganhou e o pobre “roxo imoral” foi a julgamento.
Por sorte não foi pra forca, mas sim para a prisão. E lá o fizeram trocar todas as suas cores por um cinza-sujo. O que não deu certo. Ao longo de uma semana as cores voltaram. Começaram pelos cabelos da nuca e pelas unhas dos mindinhos e daí não pararam mais; se espalharam pelos braços, pelo nariz, pelos joelhos, pelo chão, pelas paredes, pelo teto, pelas grades, pelos corredores, pelos portões, pelas ruas, pelas casas, pelos postes, pelos carros, pelos sabores de sorvete(!),pelas bicicletas, pelos cachorros, pelos cabelos, pelos apêndices, pelos corações. Até que chegaram ao sol. Mas o sol não se rendeu tão fácil; afinal foram anos e anos de brilho apagado e de frio constante! Aquilo era uma mudança muito brusca! Mas já está se acostumando e vem assumindo um tom arroxeado muito bonito. Acho que daqui a umas duas semanas vai dar praia.