ele pensa e não diz
onde tem muita água
tudo é feliz.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

pseuda

Tive uma epifania, mas não anotei e acabei esquecendo.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Infindo

A mulher não deu nem bom dia. A ninguém. Parou na minha frente e pediu um cigarro. Eu a olhei com um certo desprezo e não lhe daria nada, se, segundos antes, eu não a tivesse visto dançar na calçada em frente às portas de vai-e-vem do edifício. Dançava como louca, como se tivesse o demônio no corpo e acompanhasse um ritmo desconhecido de nosso mundo.
Afinal, eu lhe dei o cigarro. Ela tirou um isqueiro da bolsa e o acendeu só pela metade. Reparando nisso, ela começa a tentar queimá-lo corretamente. Sem êxito. Eu tiro meu isqueiro do bolso e acendo-o todo para ela, que não me dá nem um sorriso, a maldita.
Sento-me à mesa de novo. Mesa que é só minha, muito minha, não divido com ninguém. Ela agora pergunta porque me sento aqui, no térreo; mais precisamente no saguão de entrada, de costas para o balcão de informações. E antes que eu possa responder, pergunta ainda se eu sou mesmo um funcionário do estabelecimento.
'Claro que sou', digo. A mesa tem a plaquinha com meu nome. Eu só sento aqui porque me deixam fumar. O tempo todo. E lá em cima, em qualquer sala, eu não poderia, teria que ficar descendo e subindo.
Ela me olha de uma maneira estranha, porque não sabe se acredita ou não na minha resposta. Mas tenta disfarçar; faz um 'ah', como se assim demonstrasse que compreendeu tudo e pergunta se não é um exagero. Sabe, desistir do conforto de uma sala só pelos cigarros, se não é importância demais dada a eles, ou se não são cigarros demais. Eu lhe mostro meu cinzeiro. Fundo, largo e abarrotado. Às onze e vinte e sete da manhã. O rosto dela pareceu mais atordoado dessa vez e ela nem se preocupou em disfarçar. Pareceu ter um pouco de nojo. Olhou para o cigarro que lhe dei e que se fumava sozinho; ela não o levava à boca há mais de um minuto, Ofereci-lhe o cinzeiro, apontei-lhe a cadeira ao lado da minha


(Ainda em) Niterói, 2 de setembro do 2010.

sábado, 9 de outubro de 2010

Apenas Fumaça

Eu consigo ver nitidamente o dia em que você me deixa. Ele começa com bom-dia, café e um cigarro. Beijinho e eu te amo. Você sai, eu fico mais um pouco, porque trabalho perto. Faço as palavras cruzadas do jornal, que é meu hobby de velha, como você diz. Ou dizia. Ou diria.
No seu trabalho, alguns fumam, você não. Ainda é muito novo lá, o chefe não aprovaria, seria uma afronta. Mas você morre de vontade. Apalpa os bolsos involuntariamente, só pra sentir o maço pela metade, o isqueiro. Nesse momento, não vê ninguém à sua volta; só existe tu e os teus cigarros. De repente, lembra de mim, com carinho, e sem saber que será a última vez. Fica pensando em como minhas covinhas se fazem nítidas quando trago, em meu sorriso ao cobri-lo de fumaça. Sorri. Nem nota que é observado.
Ao sair, em passos lentos, porém decididos, ela te chama pelo nome. Você se vira e a vê de verdade pela primeira vez. Pergunta se tens isqueiro e ri. É bonita, mais alta que eu, mais branca que eu, os cabelos mais compridos que os meus, pintados em algum tom de ruivo que lhe cai bem e que nunca ficará bom em mim.
Você tira um cigarro do maço e põe na boca, ela te acompanha. Acende primeiro o dela, depois o seu. Ela afirma convictamente que sempre soube que você fumava, era clara a sua expressão quando via os outros. Achava bonito você não fumar lá dentro do trabalho, ela sempre fumava escondida e já fora pega algumas vezes. Você dá um sorrisinho e esse é o sinal de que começa a gostar dela.
A partir desse momento, você não está mais comigo. Não em pensamento. Uma semana depois, nem fisicamente.
Agora é ela quem ocupa o outro lado da cama e saem juntos pro emprego. Ela fuma como ninguém.
Minto,_você pára pra pensar_ela não fuma mais do que eu. E por um breve instante, lembra de como costumava encostar o nariz bem de leve na ponta de meus dedos e sentir o cheiro do cigarro. E de que, ao fazê-lo, cerrava os olhos e virava fumaça.
Mas foi só por um instante, ela chama a sua atenção para algo que acontece do lado de fora do ônibus. Então você tenta lembrar do cheiro das mãos dela. É sempre doce, elas nunca se assemelham a cigarro ou fumaça; ela tem compulsão por um hidratante que tira todo o cheiro 'bom'.
Daí em diante, você repara o quanto ela é artificial. Que os cabelos são alisados, a maquiagem uma obrigação, a comida é sempre salada sem graça, nunca há espaço para um brigadeiro, as unhas são postiças, a risada forçada. Não que isso seja ruim, ela é linda, encantadora em tantos aspectos. Mas te atormenta o pensamento de que um dia, quando você pegar no sono, ela vire para o outro lado e tire os dentes e os coloque num copo com água. A situação piora: quando trepam, você só pensa se o orgasmo dela é falso ou verdadeiro. Ela é realmente uma boa atriz.
O tempo vai passar, você vai envelhecer um pouco, se acostumar com ela e voltar a dormir em paz. E só então ela vai esperar você pegar no sono, virar para o lado, abrir um zíper que vai da cabeça aos pés e sair da sua fantasia de outra. Nesse dia, quem vai dormir ao seu lado serei eu.


Niterói, algum dia entre 8 e 16 de setembro.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Eu Sou a Pessoa Mais Insensível do Mundo

E mereço uns tapas de vez em quando, pena que ninguém leve isso a sério ou a cabo.


Eu não sei se são os homens, ou se são esses pseudo-homens-gays com quem me relaciono, mas me estão cansando a beleza. A tal beleza que eles mesmo dizem que eu tenho. Eu não vou discutir isso.

Olha,


E quando eu digo ‘olha’, quero que olhe mesmo, não precisa ser no fundo dos olhos, mas pelo menos vira pra mim e pra minha expressão, que talvez nem seja compreendida.


eu realmente sinto muito. Tento me fazer de adulta e acabo falando merda; eu sou uma criancinha. Não me desculpa não, que a culpa é toda minha. Mas entende que eu sinto muito, de verdade. E que essa insensibilidade passa, é só eu conseguir me fazer ouvir. O problema é que isso depende de você. Aí sim, me desculpe, a culpa não é toda minha, é difícil demais interagir quando a outra pessoa não demonstra compreensão.