ele pensa e não diz
onde tem muita água
tudo é feliz.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Mamãe, acho que virei emo. =s

"O paciente com depressão crônica (distimia) apresenta baixa ou nenhuma auto-estima; sente-se desmotivado; tem pensamentos suicidas frequentes; apresenta comportamento agressivo; se desinteressa pela maioria das suas atividades, ou perde totalmente o interesse em todas elas; tem insônia ou dorme excessivamente; apresenta perda de apetite ou alimentação exagerada; apresenta tendência para consumir drogas, álcool, e tabaco, aumentando a freqüência e a quantidade consumida destas substâncias se já as utilizar; há ainda chances de sonhar com a causa da depressão repetidamente, normalmente todas as noites. (Observação: não confundir com o transtorno de personalidade independente)."

sábado, 20 de dezembro de 2008

domingo, 14 de dezembro de 2008

idiota

Considere aqui um fato medianamente excepcional: sua mãe comprou três metros de plástico bolha.
Sim, você sabe que foi isso que pediu de Natal. Não exatamente três metros, mas o plástico em si. Você sabe também que seus pais nunca, em sã consciência (se é que algum dia existiu uma consciência que fosse verdadeiramente sã) te dariam isso como presente. Afinal, os próprios afirmaram que isso não é presente e perguntaram o que você faria com ele. Mediante a sua resposta, ambos tiveram espasmos; não parece uma boa idéia rolar uma escada rolante que sobe. Muito menos enrolado em plástico bolha. Imagine os riscos de asfixia.
Mas agora aí está você, abrindo aquele armário que nunca alcançou, nem nunca vai alcançar no canto mais longínquo da área de serviço (procurando algum produto de limpeza que tire rápida e desesperadamente manchas de parede, pois, não satisfeito com as portas de blindex do Box, você resolve pichar o teto da sala com canetinha azul) e uma sacola cai na sua cabeça e depois no chão, permitindo que o plástico se liberte.
Uma faixa se estende do tanque até a lava-louças; inacreditável. Esfrega os olhos, belisca-se: é verdade. Então você nota que, junto com o plástico, veio um papelzinho, manuscrito com a letra de sua mãe: “embalar copos para a mudança”.
Escuta-se o ruído da porta da sala abrindo e você lembra do teto com ovelhinhas azuis. Mas agora, pelo menos, tem com o que argumentar.
A dona da casa chega e grita:
_Meu Deus, criança, o que você fez com o teto?
E você:
_Meu Deus, mulher, como você pôde trair o movimento?
Aí você consegue realizar o seu desejo de Natal, pois foi emancipado. Aos 11 anos.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Sentou-se no assento ao lado do meu. Cheguei pro canto o máximo que pude; ela esboçou um sorriso. Me espremi contra a janela, ela chegou-se mais pro meu lado. Perguntei de uma vez, pois não aguentaria aquilo por muito mais tempo:

_Muito bem, o que você quer?

A voz dela era cortante, um tanto metálica:

_Você sabe, você sabe..._ E então me olhou como se nunca antes me tivesse visto, o que fez com que eu tivesse um sobressalto. _ Não se espante, não. Sabes muito bem que cedo ou tarde me encontraria.

_Eu ainda tinha esperanças.

_Eu sei, eu sei. Fugiste do país. Mudaste de endereço por quatro vezes. Plástica no nariz, cabelo cortado, pintado, alisado, lipoaspiração. Mas eu te reconheço até assim.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Em seu lugar

Sente-se no sofá. Pode falar o que quiser. Eu não sou analista, não sou psiquiatra, nem psicólogo. Só estou aqui pra ouvir, porque me interessa a tragédia alheia. Queria ter essa capacidade, a da tragédia. Desde sempre que fui assim, sem graça e isso até poderia ter dado uma boa tragédia, mas não deu. E agora cá estou, a caçar pela de outrem. Vou bebendo cada palavra, como se cada gole me tirasse a própria vida. E a cada ausência de vida que sinto, aumenta a minha necessidade de preenchê-la de vida nova, que busco em você mesmo, minha vítima. Soa clichê, mas sou um vampiro de sentimentos.
Falo pouco, o que falei até agora foi na intenção de explicar-me. Não que eu espere que me entenda, mas seria falta de educação se não me apresentasse. Quanto a você, não gaste energias. Sei tudo sobre sua vida, desde o livro favorito até o fato de não apreciar o ato da leitura. O que, particularmente, acredito ser um desperdício; uma mente brilhante necessita ser polida regularmente e nada melhor que um livro para fazê-lo. Mas perdoe-me a reflexão em hora imprópria.
Antes que comece, quero fazer apenas mais uma observação. Tente não chorar. Não suporto criaturas que se descabelam por seus próprios motivos. É egoísta, meu amigo. E não vou desculpar-me por ser grosseiro ao proferir estas palavras, ou se, por um acaso, ofendi a sua opinião. Falo apenas verdades e estas não devem ser castigadas ou silenciadas. As verdades são absolutas. Chego a enojar-me só de pensar em quão frívolos pensamentos terei de escutar por hoje. Preciso de ar, vou até a janela. Pensando bem, acho que vou mudar de rotina por agora. Adeus, não agüento mais o seu silêncio carregado de palavras e significâncias.

E foi. Pulou. Mas não caiu. Abriu os braços e como estes funcionassem como um perfeito par de asas, saiu voando em direção ao sol do meio-dia.
A pessoa no sofá se levanta, vai até a janela e o acompanha com o olhar. Espia o relógio. Ainda é cedo, mas decide ir almoçar. Merecia uma folga antes do próximo cliente da análise.

Convite para o encontro das máquinas, antes que alguma sobre.

"Eu nunca estive poética, não começa a viajar que nem o Daniel viaja. Contudo, confesso, você me faz poética quase sempre.
Quiçá sempre.
Na verdade, sempre.
(Tenho problemas em assumir coisas.)"



Já que me foi concedida a graça, hei de chover acá também.