ele pensa e não diz
onde tem muita água
tudo é feliz.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Pão e Circo

Eu tenho uma ideia para uma foto que já é bem antiga. Tão velha que vem de antes de eu aprender o pouco que aprendi sobre fotografia e que agora já faz um tempo que parece bem distante. Tão idosa que vem da época em que eu só praticamente ouvia Mutantes, mais especificamente dois álbuns que são os mais geniais que já ouvi. Tão anciã que vem de antes de me proferirem as palavras mágicas que me obrigariam a consentir que um óbvio indesejado de fato se faz real: os mutantes não faziam música brasileira.
Eu tenho uma ideia para uma foto que tem a Central do Brasil, um homem de barba que sorri, cinco horas das tarde e uma melodia grudenta. Folhas de sonho e jardim, ao mesmo tempo, sobrepostos na impressão, à meia luz. Havia também um punhal, que usei para matar o homem e me fez ficar sem foto, me fez esquecer dos mutantes, me fez odiar dias muito iluminados.
Eu tenho uma ideia para uma foto da qual me lembro às vezes, em manhãs especialmente iluminadas de sol, ou quando vou ao zoológico. Mas acordo ao meio dia e o funcionamento da Quinta da Boa Vista bate com meu horário de trabalho.
Hoje eu vi navios no ar enquanto sonambulava pelo Flamengo e tive uma ideia para uma foto que achei genial, mas então lembrei que havia matado meu amor um pouco antes de ter começado a gostar de Mutantes.

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