ele pensa e não diz
onde tem muita água
tudo é feliz.

terça-feira, 5 de junho de 2012

"Jay Commited Suicide"

Dizia que seu alterego era um menino de sete anos e que podia vê-lo nitidamente quando entrava no provador de qualquer loja para experimentar vestidos que nunca levava, porque é óbvio que nunca lhe caíam bem. Passava em frente a um colégio todos os dias no caminho de casa e diminuía o passo para poder ver os cabelos das meninas mais de perto. Em meio a tal profusão de penteados sentia-se no paraíso, não pensava em nada, só em como a vida era boa por proporcionar-lhe tal visão diariamente.
Ao chegar em casa, abria cuidadosamente um jogo de lápis aquarela 126 cores que ficava em cima do guarda-roupa de seu irmão mais velho. Há algumas semanas reparou que não necessitava mais usar a cadeira da sala, nem o banquinho da cozinha para alcançá-lo. Há alguns dias reparou que haviam algumas rugas ao redor de seus olhos e nenhum problema de adulto para resolver, caiu em depressão, tomou um pote de sorvete de flocos_o seu preferido_inteiro e sentiu-se melhor.
Foi no dia em que achou uma foto de sua época de infância debaixo da cama que resolveu que nem o tratamento psicológico mais poderoso poderia salvá-la; descobriu que nunca havia sido quem o exterior lhe mostrava. Vendou os olhos e abriu a porta de casa; saiu para a rua esperando ser arrebatada pelo primeiro veículo em alta velocidade que passasse.
Sua mãe a encontrou debaixo do sofá, logo em frente à cabaninha de lençóis que havia feito dois dias atrás, dormindo o sono pesado que só aqueles com menos de dez anos possuem.