_Não escuta, você não vai entender!
Pegou o telefone, entrou no quarto, bateu a porta, que ficou sacudindo, como se dela fosse surgir um pedido desculpas; era muita falta de educação.
Meia hora depois:
_Tô saindo, não me liga! Não sei a que horas volto, não sei se volto. Eu te amo.
Uma fração de segundo depois:
_Que que vai ter pra janta?
Uma hesitação depois:
_Não, deixa, não me espera.
O tempo de um cigarro ser degustado depois:
_Olha, eu vou chegar tarde, você pode dormir. Sério mesmo.
A morte de uma formiga que passeava pela parede da sala depois:
_Vem cá, aquela lâmpada que queimou, você trocou?
Uma espiadela casa adentro depois:
_Quer que eu troque? Acho que dá tempo.
Um clique no interruptor depois:
_Ah, olha a luz aí. Deixa, então.
Uma pausa desconfortável depois. Uma coçada na testa. Uma menção de pegar o maço dos cigarros. Uma desistência; pegou o isqueiro, ficou brincando de acender e apagar.
_Bem que podia ter um sofá aqui.
Um arrependimento depois:
_Não, eu prefiro assim. Só falei isso porque queria me tacar num sofá agora. Mas deixa, eu gosto mesmo disso aqui; essa sala, como tá.
Uma pausa vazia depois:
_Sabe, faz tanto tem...Não, mentira, esquece.
Um momento de espectativa muda depois:
_Tá bem. Eu vou agora.
A maior espera do mundo contida em meio segundo depois:
_É, é isso. Tchau.
Exatos quarenta e dois minutos de puro arrependimento, autodepreciação mental, fumaça engolida, sensação de que falta algo e olhos ressecados depois:
_Voltei.
A porta_ a mesma que antes batera, frisando que queria estar só_ agora lhe sorria com escárnio. Bateu.
_Eu precisava disso, entende? Só um tempinho. (umalgoqualquermuitocurtodepois:) Já passou.
Abria-se a vedação, sem que a maçaneta precisasse girar e o cômodo lhe sorria; não estava mais só.
Um passo de pessoa adulta e não muito grande depois:
_Às vezes eu sou tão eu que me divido em dois.
A sensação dos corpos depois:
{}
Abraços são silenciosos.
2 comentários:
Tô random.
Nossa, catarse total. Adorei
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