ele pensa e não diz
onde tem muita água
tudo é feliz.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Merilu

_Minha filha vai chamar Merilu.


_Hm.


_Merilu que nem a avó. Acho lindo dar o nome dos nossos pais pros filhos. Ainda mais um nome desses. Forte, né?


_Uhum.


_Mé-rí-lú. Ai, ai, podia ficar repetindo o dia todo. Ah, querida, já ia esquecendo, o banheiro é logo ali, tá precisando retocar o batom. Aliás, meu bem, esse tom não é o melhor pra você, né? Da próxima vez, escolha um mais rosado, esse puxa demais pro laranja.


_Hm. É que eu gosto tanto do laranja...


_Ai, que gracinha. Mas amorzinho, não dá pra usar tudo o que a gente gosta, né? E o seu tom de pele pede um batom rosado. E um blush mais suave. A moda às vezes é chata, né, florzinha? Ser bonita dói, não é fácil, não. Só a minha Merilu é que vai ser linda fácilmente. Só o nome já promete. E com uma mãe que nem eu, não vai ter pra ninguém, minha Merizinha vai ser a menina mais linda de todas. Agora vai lá retocar esse batonzinho, meu anjo, que as outras visitas tão chegando. Vem todo mundo pro chá de bebê da Merilu.


_Ok.





E corri pro banheiro e só saí de lá no dia seguinte, arrastada por alguém que nem vi, meio dormindo, meio acordada. Desde então nunca mais comprei um batom rosa sequer, fiz um estoque de laranjas. E blush, só se for bem forte. Mas mais do que isso tudo, passei a me orgulhar do meu nome comum e escolhido ao acaso. Porque certas histórias dóem. Mais do que qualquer batom.

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