ele pensa e não diz
onde tem muita água
tudo é feliz.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Surreal

Sentou-se num colo aparentemente alheio tentando fazer tal ato parecer normal. As pessoas a sua volta, apesar de serem todos artistas em formação,no espaço de uma sala de artes, estranharam. Todos deveriam estar fazendo um trabalho de pintura, que não tinha nada a ver_pelo menos até então_ com interpretação cênica.



Sob tais olhares inquisidores, sentiu a vergonha subir-lhe pelas orelhas, fazendo-as esquentar. E só então percebeu que o colo que passara tanto tempo escolhendo, lhe parecia menor e mais ossudo do que o esperado. Temeu, por sua coluna. E também pelo que poderia causar a escolha do colo errado. Porém, o tal colo remexeu-se e revelou-se mais confortável e até mesmo acolhedor. Sorriram-se, ainda meio constrangidos.



Sussurrou ao ouvido daquele que acolhia:

_Preciso de castanholas.



E, ao arregalar dos olhos, elas surgiram, vermelhas, leves, maleáveis em suas mãos. Então começaram uma dança complexa em que não se largavam nunca ao som dasqueles pequenos instrumentos. Ninguém reparou, mas, passado um momento, todos rodopiavam e pulavam e esboçavam um 'lalala' ou 'papapa'. E toda a sala era uma única coisa, unida pelo som das castanholas.



Nos momentos seguintes à dança, aqueles estudantes todos pintaram como nunca e a música não parou até que a última pincelada fosse dada. Ao chegar à sua mesa, a pessoa que, uma vez quase reprimida por sua ideia estranha de castanholar no colo alheio, encontrou o belo par sobre a folha onde deveria ter pintado algo. E tirou nota máxima no trabalho.



O colo, agora foge, para a terra daqueles que bailam eternos, como suporte de outros dançarinos, que tocam castanholas.



P.S.: Incrível como me esqueci completamente desse conto. E olha que tinha uma ideia quase que totalmente formada sobre o que escrever nele.

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