ele pensa e não diz
onde tem muita água
tudo é feliz.

terça-feira, 30 de março de 2010

Covarde

Quando deu-se conta já era tarde demais. Estava completamente afundada, uma pedra amarrada à cintura, puxando para baixo com toda a força. Tentou inúmeras vezes desatar os nós, mas o marinheiro que os deu era bom nisso.
Tudo começava a girar. Havia pouca luz, que ia esvaindo-se cada vez mais. Os tímpanos explodiam. Falta pouco para o afogamento.
Nunca se sentira tão familiar; era como se houvesse esperado por isso durante toda a sua vida. E mesmo assim as coisas não eram fáceis ou menos dolorosas. Pelo contrário, sentia-se burra por não ter evitado o óbvio.
Num instante que sabia ser o último, fez sua contribuição para que o oceano se mantivesse: derramou uma lágrima (ou vocês pensam que não é assim que se formam e mantêm os mares?).
Ela e a água e o sal já não se diferem. Afoga agora. Por sua própria escolha, que fique bem claro. O marinheiro só a atou porque lhe devia algo. E esse algo foi pedido da forma mais convincente possível. Era um amor que fazia sofrer; que só sobrevivia na saudade. E assim ela não aguentava mais viver.

3 comentários:

Ferreira, Lai disse...

mimimi, né?

caio k disse...

Só o último parágrafo é você. No incício, pensei que tinha sido o Rudy.

Ferreira, Lai disse...

Credo! o.o
Sério isso?
Acho que é porque você não conheceu meu eu-ficção.
Leia os primeiros textos, eles são melhores do que esse, mas estão nesse tom.
Ou não, porquenemsempre.