ele pensa e não diz
onde tem muita água
tudo é feliz.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Luta Sem Clube (06/09)

Pernas pequenas demais para fugir correndo, sangue demais para limpar com as costas da mão e o lábio inchado como nunca antes. O nariz coçava, fazendo uma pequena gota começar a brotar no canto do olho. Sacudiu a cabeça e não sentiu-se tonta; animou-se para levantar. Foi aos poucos, bem devagar, apoiando-se no muro de tijolos gordurosos; sentiu nojo, mas então deu-se conta de que ela própria estava nojenta desde a ponta dos cabelos até o âmago, seja lá onde isso fica. Achou engraçado lembrar-se de sua essência logo nesse momento e riu-se por dentro sem emitir nenhum som, mas iniciou uma dor aguda não sabia onde_com certeza não era na costela, disso tinha certeza, e sentiu-se sortuda, pois quem mais briga desse jeito e sai com as costelas ilesas?. Tal constatação a animou; levantou-se de uma vez, sentindo certa vertigem, nada preocupante. A mão direita latejou fortemente, ela tentou mover, sem êxito: estava bom demais pra ser verdade e, pensando bem, era até injusto sair sem machucado sério. Uma mãoquebrada era menos do que o merecido.
De pé, agora, ensaiou um passo em direção à rua. Caiu, óbvio. Aqueles joelhos não eram mais seus, pertenciam àquela esquina úmida e fedorenta a partir de então, e ali ficariam, até que o vulto que permanecia imóvel no chão resolvesse manifestar-se e sair de sua vida. Enquanto isso, ela ia ter que procurar um lugar onde aceitassem menininhas sem pernas, sem mãos, sem âmago. Levantou de novo e dessa vez deixou o muro para trás, servindo apenas de cenário para o flagrante da briga entre duas pessoas na noite passada. Com direito a sangue e corpos estirados, inocentes até, cadáveres.

2 comentários:

Mariana Fontes disse...

você tá destruindo muito.
e olha só você, escrevendo ficção...
e fazendo isso bem. Muito bem!
(:

-A Ana disse...

isso me deu uma idea pra um texto ^^ =)
aah..cansei de dizer que amei.fica mt repetitivo. a partir de agora já está implícito ok? ;)